quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O começo da mudança: Acreditar!

Artigo
"Há muitos direitos humanos determinados por lei. Temos muito orgulho de nossa luta para garantir esses direitos: direito a alimentação, a abrigo, direito a trabalho, a saúde e assim por diante.
Eu também acho que direito a crédito também é muito importante.
Se temos direito a alimentação, a abrigo, a saúde, a trabalho, quem vai fornecer tudo isso? Vou esperar o governo trazer comida para mim toda manhã, para que eu possa comer? O governo vai me trazer saúde todos os dias, para que eu fique saudável?
Nenhum governo do mundo consegue fazer isso.
A responsabilidade do governo e da sociedade é me tornar capaz de ir atrás da minha comida, de cuidar da minha saúde, de construir a minha casa, e assim por diante.
Para fazer isso, precisamos de uma instituição, de um serviço importante, que é o serviço financeiro.
Posso pegar o dinheiro e transformar em oportunidade de renda, e essa renda vai solucionar as questões de comida, abrigo, saúde, o que seja. Então, se tenho um serviço de crédito à disposição, pego um empréstimo para criar meu próprio emprego, meu próprio negócio. Se eu não consigo achar um emprego, e fico ali, reclamando e esperando alguém me alimentar, não dá certo.
Posso criar meu próprio emprego, sou uma pessoa capaz, cheia de energia criativa. Mas preciso de um pequeno capital de investimento: US$ 30, US$ 100, US$ 200. É só isso que preciso para mudar minha vida.
Ao mesmo tempo em que construímos uma economia na qual tudo é feito com dinheiro, nós negamos a uma grande parte da população mundial, acesso a esse dinheiro.
Construímos uma muralha para que elas não entrem nesse mundo.
Se dinheiro atrai dinheiro, se é preciso um dólar para ter outro dólar, quem não tem o dólar inicial está acabado e não chega a lugar algum.
Não importa o lugar onde você nasce. É a forma como você cresce que faz toda diferença. Qualquer ser humano, nasça ele na rua ou dentro de um palácio, no que diz respeito a qualidades, não há diferença.
Talvez seja a hora dos bancos convencionais pararem e refletirem. Digam a todos: 'Se o banco diz que é impossível, não acreditem...' porque é possível.
Vemos resultados todos os dias.
Por que não podemos emprestar dinheiro para qualquer pessoa?
Os bancos responderam: 'Não, isso é impossível'. Nós dissemos: 'Podemos tentar, ao menos'. E tentamos. E deu certo.
Eu não sabia nada sobre bancos. Essa  foi minha maior vantagem: não saber nada sobre bancos. Como eu não sabia nada sobre bancos, eu podia fazer o que quisesse. Por isso, o banco que nós criamos era praticamente o oposto dos bancos convencionais.
Os bancos convencionais vão para um lado, o Banco Grameen vai para outro. Os convencionais atendem os ricos, o Grameen atende os pobres.  Os convencionais pedem garantias, o Grameen fala: 'Não precisamos de garantia'. Os bancos convencionais usam advogados para prender o cliente, o Grameen não precisa de advogados. Os bancos convencionais mandam você ir à agência para fazer negócio. Nós dizemos que o banco deve ir até o cliente para fazer negócio.
É preciso observar que o Banco do Povo, outros bancos e outras organizações de microfinanciamento estão fazendo. Sem precisar de garantias, sem advogados.
Eles emprestam dinheiro, e a taxa de retorno chega aos 98%, 99%.
O dinheiro da caridade tem vida curta. Você usa, e pronto. Mas se você investir esse dinheiro numa empresa social, não tem fim, o dinheiro se recicla, e você consegue fazer ainda mais.
Pode resolver o problema da falta de água potável, de construção de casas para os pobres, de geração de renda para os pobres.
É um negócio, não é caridade.
Todo ser humano chega repleto de engenhosidade, de criatividade, de empreendedorismo. Quando o ser humano nasce, já chega com todo esse potencial ilimitado. Então, a partir de agora, devemos trabalhar para criar um ambiente próspero, para que toda criança tenha a possibilidade de liberar essa capacidade que tem.
O 10º aniversário é sempre um momento importante. Vocês já percorreram um longo caminho. Vocês tem um histórico. É isso que nós fazemos. E fazem isso há mais de 10 anos.
Nesses 10 anos, alcançaram a um patamar no qual tudo é possível. Espero que seja um marco na História. Que foi neste ano que o microcrédito no Brasil decolou e atingiu muita gente que nunca teve acesso a esse serviço.
Hoje, nos alegra muito vê-los comemorando o seu 10º aniversário.
Sei que seu futuro será ainda mais brilhante, e que vocês inspirarão o Brasil inteiro. E mais: inspirarão muita gente no mundo inteiro a seguir seus passos.
Obrigado!

Muhammad Yunus, o banqueiro dos pobres, fundador do Grameen Bank de Bangladesh, o maior banco de microcrédito do planeta e ganhador do Premio Nobel da Paz em 2006, proferiu a palestra descrita no texto acima, na comemoração dos 10 anos do Banco do Povo Paulista, realizado em Sâo Paulo, no dia 25 de agosto de 2008

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