terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Oração do Milho


Senhor, nada valho.

Sou a planta humilde dos quintais pequenos
e das lavouras pobres.
Meu grão, perdido por acaso,
nasce e cresce na terra descuidada.
Ponho folhas e haste, e se me ajudardes, Senhor,
mesmo planta de acaso, solitária,
dou espigas e devolvo em muitos grãos
o grão perdido inicial, salvo por milagre,
que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo
e de mim não se faz o pão alvo universal.
O Justo não me consasgrou Pão de Vida, nem
lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que
trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura e de ascendência pobre,
alimento de rústicos e animais de jugo.
Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques,
coroados de rosas e de espigas,
quando os hebreus iam em longas caravanas
buscar na terra do Eito o trigo dos faraós,
quando Rute respigava cantando nas searas de Booz
e Jesus abençoava os trigais maduros,
eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.
Fui o angu pesado e constante do escravo na
exaustão o eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica o proletário.
Sou a polenta do imigrante e
a miga dos que começam
a vida em terra estranha.
Alimento de porcos e do triste mu de carga.
O que me planta não levanta
comércio, nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura penosa e
despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos na glória
do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras
à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor,
que me fizestes necessário e humilde.
Sou o milho.

in POEMAS DOS BECOS DE GOIÁS E ESTÓRIAS MAIS

CORA CORALINA



sábado, 18 de dezembro de 2010

Patria Minha!

A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...
Vinicius de Moraes."

Texto extraído do livro "Vinicius de Moraes - Poesia Completa e Prosa", Editora Nova Aguilar - Rio de Janeiro, 1998, pág. 383.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sorria!

"Você não pode ensinar nada a um homem; você pode apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo." (Galileu Galilei).

Muitas pessoas com o passar do tempo devido a coisas ruins e experiências tristes acabam deixando de sorrir para a vida. Sim, por incrível que pareça para muitas a graça vai se acabando até o ponto que não resta mais nada de bom para se fazer e que a pessoa não consegue enxergar nada de melhor em sua vida. A vida pode não ser perfeita, mas sem dúvida é bem melhor viver com brilho nos olhos e a alma leve do que passar a ser um zumbi, uma pessoa que apenas existe porque viver mesmo não consegue. Por mais problemas que uma pessoa possa ter, o que faz com que a vida perca a graça é a perda da auto-estima. Por mais que se esteja no fundo do poço, é necessário pensar positivo e se valorizar. Algumas coisas você pode fazer por si mesmo que poderão ser de ajuda na recuperação de sua auto-estima e amor próprio. Por exemplo, uma pessoa quando está querendo sair de uma fase ruim precisa mudar, e por que não começar a fazer isso pela sua aparência? Se começar a mudar suas roupas, mudar seu corte de cabelo, e mais alguma coisa que ache necessária e esteja dentro de seu alcance com certeza se sentirá mais confiante. Mas voltar a sorrir para a vida não pode ser uma coisa que é feita por simplesmente a parte exterior estar em forma e com bela aparência, mas é preciso trabalhar o seu interior para saber onde é preciso fazer mudanças. Faça uma faxina na sua alma e assim como em casa, jogue fora tudo aquilo que é lixo que tem habitado seu coração. Procure mudar de amigos caso o seu circulo de amizades não sejam com pessoas que são positivas. Voltar a sorrir para a vida é possível, desde que seja isso o que você realmente quer.

Podia falar da importância de sorrir no processo de libertação das endorfinas e dos mecanismos que desencadeia algumas reações fisiológicas, de que acionamos 72 músculos para franzir a testa e apenas 14 para sorrir (no mínimo rejuvenesce) e outras teorias, mas não me interessa muito dissecar algo que é sempre melhor sentir em sua plenitude.

Você já percebeu que a maioria dos sorrisos começa perto de outro sorriso!
O sorriso é uma das características que nos distingue. Um simples sorriso pode deixar-nos tão felizes... Incutir-nos esperança, ajudar-nos a sonhar e a vencer os obstáculos diários que a vida teima em colocar enviesados em nosso caminho, enfim, um sorriso espontâneo, caloroso, sincero digno da expressão de contentamento, contagia-nos e transporta-nos para outra dimensão... Um sorriso pode ser um salubre remédio contra aqueles dias cinzentos, o sustentáculo da felicidade que queremos alcançar...

O sorriso traduz, geralmente, um estado de alma; é um convite a entrar na intimidade de alguém, a participar do que lhe é íntimo. É por isso que o homem é o único animal que sorri, e como é dotado de inteligência e vontade pode sorrir quando tudo vai bem ou sorrir mesmo quando as coisas não corram tão bem – tudo se resume à harmonia interior.

Sorrir é no mínimo um ato de respeito e empatia com o próximo, pois através dele reconhecemos o outro como pessoa. Com um sorriso sincero podemos mudar o mundo, colocando o amor, respeito, autoconfiança e esperança no centro da vida humana ao invés do egoísmo ou o interesse pessoal.

O poder do sorriso é grande, e saber sorrir é algo de muito importante. Antoine de Saint-Exupéry diz: "No momento em que sorrimos para alguém, descobrimo-lo como pessoa, e a resposta do seu sorriso quer dizer que nós também somos pessoa para ele".

A atração do sorriso é indiscutível, onde há alguém sorrindo sempre haverá alguém por perto. O sorriso é algo que pluraliza e multiplica as relações. Ao contrário, quando se aproxima de alguém com a expressão facial séria, normalmente os filhos entram para os seus quartos, ou colaboradores não saem de seu ambiente de trabalho e a conversa pára por ali. Desnecessariamente ninguém se aproxima de alguém com a face séria ou que pareça estar aborrecido com algo, se o sorriso atrai, ao contrário pode-se dizer que sua falta repele.

Mesmo quando a vida está sendo dura; mesmo sendo difícil, é preciso sorrir.

Vivemos sempre tão ocupados que mal olhamos para as outras pessoas, mesmo aquelas que nos são caras, mesmo as de nossa família; mal olhamos para nós mesmos. A sociedade está organizada de tal modo que, mesmo tendo tempos de lazer, não sabemos aproveitá-lo para entrar em contato conosco.

Inventamos milhares de formas de desperdiçar esse tempo precioso: ligamos a TV, falamos ao telefone, saímos á esmo de carro para ir a qualquer lugar e com isso vamos nos afastando de nós mesmos cada vez mais.

A princípio você pode achar difícil sorrir, e nesse caso deve considerar o porquê. Sorrir significa nossa essência, que estamos sendo nós mesmos, que estamos tendo soberania sobre o nosso destino, que não estamos mergulhados no esquecimento interior.

Ludwig Wittgenstein, que muitos consideram o filósofo mais profundo do século XX em uma das suas Investigações Filosóficas disse "Uma boca sorridente só sorri num rosto humano". Neste caso o humano não se refere á espécie, mas ao lado despojado das mascaras, falsidades e interesses, á total honestidade de sentimentos. Não existem falsos sorrisos, estes se comparam as dentaduras ou implantes de cabelo, pois, são facilmente reconhecíveis pela sua artificialidade.

Em 1967, um jovem investigador, Paul Ekman, fez uma pesquisa exaustiva sobre o sorriso. Chegou à conclusão que no ser humano, a mímica é produzida por 42 músculos faciais e que existem 19 maneiras diferentes de sorrir, mas apenas uma única forma é verdadeira.

O sorriso ilumina a alma, pois permite que a luz penetre na escuridão interior que cada um de nós carrega em um pedaço do seu ser, ajudando assim a diminuir as sombras e medos interiores.

Voce já observou o quanto às crianças sorriem, em qualquer local ou para qualquer pessoa que se dirigem sempre estão sorriso. Do mesmo modo observe como as pessoas depois de adultas ainda sorriem despretensiosamente para os cães e as crianças, parece que ainda existem resquícios em nossos corações para alimentar este sorriso espontâneo.

Mas você deve estar se questionando: Será que esse cidadão mora no mesmo mundo do que eu? Ou em algum mundo paralelo junto com a Alice, o Gato Risonho, a Lagarta, Lebre Maluca e o Chapeleiro Louco da obra "Alice no País das Maravilhas" de Lewis Carroll. Em que mundo eu estou vivendo? Será que é o mesmo mundo que o resto das pessoas?

Como será possível alguém sorrir perante os sofrimentos da vida? Quando somos vitimados por doenças graves ou acidentes que nos mutilam?
Como sorrir quando o desemprego bate a sua porta, causando transtornos financeiros?
Como sorrir diante da morte de um parente querido ou um amigo íntimo?
Como sorrir, quando somos incompreendidos no meio em que vivemos, dentro do próprio lar, nos ambientes de trabalho?

Segundo a yoguine indiana Dadi Gulzar, se você quiser trazer amor e equilíbrio em sua vida, em seus relacionamentos e em seu mundo, procure manter a meta de praticar três coisas com as pessoas que encontram durante o dia, sejam membros da família ou colegas de trabalho. Primeira sempre encontrá-las com um sorriso na face. Todos vocês sabem como sorrir? Mesmo se alguém estiver com alguma atitude de raiva ou agressividade, ainda assim procurem manter o seu sorriso. Procurem aquietá-lo com um sorriso bastante pacífico. Não reajam, apenas sorriam e acalmem essa pessoa que está irritada. Isto irá ajudá-la. Segunda coisa é sempre dar felicidade a quem vocês encontrarem e terceira é manter seu coração feliz. Observe que as duas ultimas metas derivam da primeira, se voce não conseguir praticar a primeira meta, será praticamente impossível atingir as demais, enfim o sorriso é o segredo, afinal o segundo o ditado popular "O sorriso é o espelho da alma".

O técnico Koide Yoshio, da maratonista japonesa Takahashi Naoko, que conquistou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Sidney em 2000, ensinou a maratonista o seguinte: "Nunca faça cara feia, treine sorrindo". Sempre que se deparar com algum sofrimento, sorria para ele. Pense que poderia ser pior e agradeça por isso. Caso contrário estará inibindo as suas qualidades e possibilidades de superação. O melhor de você só poderá ser extraído dentro de um estado harmônico criado pelo sorriso, jamais de um modo carrancudo, tenso ou embravecido.

O Sorriso é a expressão mais bonita que o ser humano tem, nos traz forças e esperanças, é linguagem universal, tem reflexos por toda parte.

Aceitar ou não é uma questão de opção, mudar ou não é uma questão de querer, fazer ou não é uma questão de atitude.

Sorrir é uma questão de atitude, depende exclusivamente de você.

enviado por Clélia W. Sandei

domingo, 5 de dezembro de 2010

Berçário de estrelas


 Há parcerias que tem tudo para deixar o mundo um pouco melhor. Conheci uma dessas: acontece no interior de São Paulo, envolve iniciativa privada, poderes públicos e ongs, e está criando raízes em todo o sistema responsável pelos primeirios passos de desenvolvimento da vida humana - aqueles dados antes do parto e até os 3 anos de idade.
A Fundação Maria Cecília Souto Vidigal (fundação privada, de origem familiar – coisa infelizmente rara no Brasil) articulou prefeituras de seis cidades para plantar uma verdadeira revolução no atendimento a uma população que é de quase 70 mil crianças.


Nesta faixa etária – o ciclo do chamado “desenvolvimento infantil” – as crianças são normalmente negligenciadas pelas políticas públicas, mas para a neurociência é nesse período da vida que se estabelece 90% das sinapses cerebrais. “Isso quer dizer que é quando ela constrói o arcabouço cognitivo que lhe permitirá aprender e interagir, ou seja, entender o mundo e se relacionar com os seus semelhantes” – afirma Andrea Wolffenbüttel , gerente de comunicação da fundação.
Em dias nos quais canhões blindados tentam resolver a omissão política de décadas e quando os brasileiros se perguntam sobre onde nasce tanta tendência à criminalidade, não é nada demais lembrar que o investimento nos primeiros anos de vida favorece o desenvolvimento infantil especialmente em seus aspectos emocionais e minimiza os riscos de dificuldades psicossociais do indivíduo ao longo da sua vida.
Esta é uma das maneiras – talvez a mais estratégica - para a redução de problemas sociais tais como baixa aprendizagem, violência e droga adição, entre outros. É nestes primeiros anos que formamos uma gente que é pra brilhar e não pra morrer (ou matar) de fome. É neste ciclo que as condições de vida devem ser um berçário de estrelas – para tomar do Cosmos o que precisamos aprender a fazer na Terra. 
Leia a íntegra do artigo em Berçário de estrelas (Blog do Noblat)
Geraldinho Vieira é jornalistaClaudius é chargista

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Henrique Martin, jornalista.

Quero parabenizar o meu amigo Henrique Martin.
Seu Trabalho de Conclusão de Curso - TCC, apresentado nesta quinta-feira, 02 de dezembro de 2010, foi brilhante.
Um videodocumentário de 15 minutos, chamado "O Condomínio dos Sonhos", sobre famílias alojadas por 8 anos num cortiço, resumiu com brilhantismo, o desprezo e o esquecimento do poder público pelos anônimos: cidadãos que, como todos nós, são manupulados por promessas quase nunca cumpridas.
A parte mais importante do TCC apresentado pelo grupo do qual Henrique fez parte, foi a mobilização e a efetiva solução de um problema.
Se o jornalismo tem uma missão, eu diria que é mostrar às pessoas os problemas e a realidade. Tornar público aquilo que as autoridades constituídas querem esconder, quase sempre.
Quando o público, as pessoas comuns, os cidadãos passam a ter conhecimento da realidade, só assim e, com cobranças efetivas, os problemas passam a serem resolvidos.
Foi isso que Henrique Martin, agora jornalista, fez. Ao mostrar a realidade de um problema social, mobilizou a sociedade civil e o poder público para a busca adequada da solução, o que acabou acontecendo.
Ao jornalista Henrique Martin, meus sinceros parabéns! Estou orgulhoso de você.
Um grande abraço do seu amigo Renato Violardi.