terça-feira, 26 de julho de 2011

A soma e o resto


Assim como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tomo de empréstimo o título de um livro de Henri Lefebvre, escritor francês que rompeu com o Partido Comunista em 1958 e publicou suas razões para tanto neste livro de 1959.
O título do livro de Lefebvre é fabuloso e, fantástico pelo que contém. Dito isso, cabe uma breve explicação, pois é chegado, como na vida de todos nós, um dos muitos momentos para fazer um balanço.
No caso, Lefebvre descontava o que o Partido Comunista lhe tirara, ou ele do mesmo, e via o que sobrava: a experiência dramática das revelações que Kruchev fizera dos horrores stalinistas, somada à invasão da Hungria, provocou uma remexida crítica na intelectualidade europeia, que não deixou de afetar a brasileira.
Hoje, quando completo 41 anos, diante do fato inescapável de que o tempo vai passando e às vezes não deixa pedra sobre pedra, senti certa atração por fazer um balanço, para ver o que resta a fazer e a soma das coisas que andei fazendo.
Mas não se assustem: é apenas um breve relato do esforço de tentar construir algo na vida, com acertos e com erros. Além do que, prefiro olhar para frente a mirar para trás.
Não posso me queixar da vida. Vivi a maior parte do tempo dias alegres, mesmo que muitas vezes tensos. Assim como senti as perdas que fazem parte de sobreviver. Perdi muita gente próxima ou que admirava à distância nestes anos. A perda mais sofrida, sem dúvida, foi a de meu pai.
As perdas, para quem está vivo, são relativas. Aprendi a conviver na memória com as pessoas queridas e mesmo com algumas mais distantes, com as quais “converso” vez por outra no imaginário para reposicionar o que penso ou digo. Tomo em conta o que diriam os que não estão mais por aqui, mas deixaram marcas profundas em mim.
A primeira professora, Francisca; o primeiro diretor, Milton Martins; o primeiro amigo, José Eduardo Marques de Abreu; meus professores, que influenciaram o que me tornei; os conselhos e conversas sobre ética, de Silvio Vidigal; as aulas de história e o descobrimento do fascinante mundo da leitura, pelos amados professores Antoracy e Ana Maria; as Diretas Já!; a marca autoritária do final da ditadura militar (quando meu professor Antoracy foi conduzido ao quartel, em Itu, para ser interrogado); os Caras Pintadas; a sabedoria política daquele que se tornou um grande amigo e uma referência, Dr. Celso Rocha; a primeira campanha política, ao lado de Manuel Barros; a popularidade de Antonio Carlos Mangini; a prática da boa política de Samuel Oliveira; todos aqueles que amo; todos os que me amam; o redescobrir DEUS e a fé, caminho guiado pelo querido Padre Alberto; minha querida Clélia, sinônimo de compreensão e paciência; minha mãe, Maria Violardi, referência de dedicação e amor; a saudade eterna e minha referência de vida – meu pai – Norberto Violardi... tantos e tantas pessoas que guardo no coração e na alma...
Na soma, não cabe dúvida, mantive mais amigos que adversários. Não sinto rancor por ninguém, talvez até por uma característica psicológica, pois esqueço logo as coisas de que não gosto e procuro me lembrar das que gosto e pelas quais tenho apego.
Por fim, para não escrever uma página muito água com açúcar, se me conforta ter tantos amigos e receber deles tanto apoio e se prezo a amizade acima de quase tudo, devo confessar que, no fundo, sou um homo politicus.
Herdado de meu pai, o “pensar no outro”, sempre norteou minha vida. Deixo para trás momentos particulares, meus, únicos, para importar-me com o outro, o próximo. Isso me preenche, me torna vivo. Mas o preço é alto. Desde que meu fabuloso professor de História, Antoracy Tortorello Araújo, enxergou em mim, um ser político, estimulando-me nos movimentos estudantis, primeiro como orador do Grêmio Estudantil do Colégio Regente Feijó, depois como participante do primeiro encontro nacional dos estudantes secundaristas, após o período militar, em 1983 (então com 13 anos de idade!), na cidade de Belo Horizonte – MG, o fato é que participo da história, quase sempre nos bastidores, pois é, como aprendi, o melhor lugar para se observar e viver o espetáculo. Esse olhar por trás e ao lado do desenvolvimento da história contemporânea, credencia-me a aprofundar debates singulares, profundos e filosóficos sobre o cidadão e a cidadania. O fato é que a esta altura da vida estou convencido, sem prejuízo das crenças partidárias e ideológicas, de que cada vez mais, o cidadão está se nos aproximando de uma época na qual ou encontramos alguns pontos de convergência, ou haverá riscos efetivos de rupturas no equilíbrio do tecido social.
Não é o caso de especificar as questões neste momento. Mas cabe deixar uma palavra de advertência e de otimismo: é difícil buscar caminhos que permitam, em alguns temas, uma marcha em comum, mas não é impossível. Tentemos.
Travei vários bons combates e, sempre os venci. Mesmo na derrota, aprendi com as falhas. Conheci muita gente, convivi com grandes homens e mulheres, travei grandes debates. Tomei conhecimento da mediocridade, do abuso do poder, da corrupção do caráter e da alma. Sem medo de errar, busco a convergência, o diálogo e o entendimento. A soma das boas coisas que fiz e que vivi, tiveram um resultado positivo, O resto? Ainda está por vir, pois foram 41 anos, até agora. Espero que se multiplique, vivendo o hoje e o amanhã, um dia de cada vez.
Guardarei as armas do interesse pessoal, partidário ou mesmo do egoísmo sempre que vislumbrar uma estratégia de convergência que permita dias melhores no futuro. Com confiança e determinação, eles poderão vir. Eles hão de vir...

Um comentário:

clelia disse...

Que sua convergência aponte sempre para o caminho certo, eu sei que não é o caminho fácil, mas também sei que você chega lá, pois você é vitorioso.