quinta-feira, 23 de julho de 2009

Por um jornalismo de qualidade.

Na semana passada, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), acuado por denúncias de irregularidades - diga-se de passagem, graves o suficiente para que o colega de partido e correligionário Pedro Simon (RS) defendesse abertamente seu afastamento -, subiu à tribuna para fazer um desabafo que já se tornou clichê em casos assim. Para Sarney, o tsunami de escândalos que o tem atingido - e que outro senador peemedebista, Álvaro Dias (PR), definiu como uma tragédia ética que se abate sobre o Senado -, não passa de uma campanha pessoal movida pelo jornal "O Estado de S. Paulo", que os demais veículos de imprensa acabam repercutindo.
Mesmo sem querer, Sarney tirou o chapéu para a qualidade do jornalismo investigativo praticado em relação ao Senado e à sua pessoa. Fossem efetivamente mentirosas as denúncias, o senador pelo Amapá subiria à tribuna com documentos e provas para demonstrar cabalmente sua inocência. Político veterano com passagem pelo cargo mais alto do país, Sarney deveria saber que só ataca o jornal quem não consegue responder aquilo que o jornal publica. Tentativas de tapar o sol da informação com a peneira da campanha movida pela imprensa funcionam, na prática, como uma confissão implícita de que as acusações são irrespondíveis. Na falta de argumentos para rebatê-las é que se apela para a desqualificação de quem as veiculou.
As descobertas de irregularidades praticadas pelo Senado não teriam existido sem um jornalismo competente, marcado pela independência em relação aos ocupantes do poder e pelo compromisso ético com a população à qual a imprensa se dispõe a servir. Esse jornalismo é, ainda, pedra rara no garimpo da imprensa. Embora a expressão jornalismo investigativo pareça um pleonasmo - é impossível imaginar uma forma de jornalismo que prescinda da investigação -, a verdade é que nem tudo o que se publica ou se leva ao ar é feito com profundidade, abrangência, conhecimento e capacidade de desconfiar. O jornalismo burocrático e de serviços, que se contenta em reproduzir press-releases e fazer a cobertura da agenda mais superficial de cada dia, fez escola no Brasil e afastou leitores dos jornais impressos nos últimos anos. Isso é facilmente identificável nos jornais do nosso município, onde as matérias vindas diretamente da assessoria de imprensa da prefeitura, estampam as páginas dos jornais locais, diminuindo cada vez mais a credibilidade desses jornais, por não apresentar, de fato, material jornalístico.
Não é uma coincidência que o jornalismo investigativo, assim como o bom texto e a reportagem de fôlego, voltem a ser valorizados ao final de um tempo de imediatismos e concepções distorcidas, em que as notícias encolheram em tamanho e profundidade. No novo cenário da imprensa mundial, a internet pulverizou a informação de tal forma que se tornou impossível competir pela preferência dos leitores apenas com serviços e coberturas pontuais. Ninguém pagará para ter esse tipo de material, disponível em profusão na web. A briga pela liderança entre os órgãos de imprensa, sejam eles impressos, eletrônicos ou on-line, depende cada vez mais do material exclusivo, da reportagem bem apurada, do texto bem escrito e, principalmente, da credibilidade de quem informa - coisas que não se encontra com facilidade por aí.
Este blog, apesar de não ser, nem ter pretensões jornalísticas, fica feliz por constatar que está absolutamente sintonizado com essa visão moderna e democrática de jornalismo, ao colocar entre suas prioridades a lavra de informações exclusivas, sem descuidar dos princípios éticos, da qualidade da informação e da independência das matérias apresentadas.

3 comentários:

Malu disse...

É isso mesmo, meu amigo!
Por isso que não tenho lido muitos jornais.
A imprensa tornou-se "promoter" de pessoas.
O uso indevido do espaço jornalístico está ganhando proporções assustadoras a cada dia.
As informações sérias tiraram férias permanentes e os bons jornalistas estão em extinção; o vocabulário cada vez mais empobrecido...
Agora sou adepta aos gibis do Chico Bento e do Cebolinha.
Abraço

Jaqueline Rosa disse...

Sem comentários pro nível dos jornais cabreuvanos, que mantêm as briguinhas políticas, as picuinhas... Nem o MAIS, de quem esperava um avanço jornalístico sobre o calendoscópio e a voz do jacaré (catálogos, não jornais!) mostrou-se disposto a verdade acima de tudo (inclusive a oposição política). São todos iguais, só que com nomes diferentes. E se eles, ao menos, corrigissem a ortografia...! Já seria ao menos legível, certo?! Porque, ao meu ver, eles só fazem desvalorizar a condição de indispensabilidade do jornalista e a importância dos jornais pra população, uma vez que a sua única função é manter as intrigas particulares... Muito me decepciona, pois Cabreúva, que é uma cidade em ascensão econômica e social, precisa urgentemente de um veículo de informação acessível e confiável. É preciso acabar com essa imagem de "jornal político". Um jornal que serve apenas os interesses de um grupo, penso, não merece ser chamado de jornal. Adoraria ver essa cidade com um jornal tão próspero e verdadeiro quanto o Jornal de Jundiaí. Quem sabe um dia, eu mesma não me encarregarei disso, ahn?! hahahahha Beeijos, Renato! Ótimo texto!

Nanda disse...

Hoje em dia a imprensa nacional passa por um momento difícil. Houve um tempo em que tudo que era publicado tinha que passar pela peneira dos militares, mas felizmente esse tempo acabou. Uma prova disso é a revogação da Lei de Imprensa. Há cidades por aí em que não há tanta liberdade de imprensa. Eu digo isso porque já morei em uma. O prefeito da cidade barrava toda e qualquer notícia que fosse negativa para a cidade. Em Cabreúva é mais ou menos assim. Os dois jornais existentes na cidade publicam as mesmas notícias. Notícias essas que são enviadas pela prefeitura. Notícias muito mal escritas e sem valor nenhum para o cidadão. E o novo jornal que seria "de esquerda" é a mesma coisa ou até mais medíocre.Eu moro em Cabreúva há 1 ano e meio e desde o momento em que pisei aqui já estava arrependida. Primeiro, porque a cidade tem um potencial absurdo para crescer e nada acontece. Segundo, porque a parte dos "jornais" que a população local mais gosta é a coluna de fofocas!

Eu sou uma exceção. Leio os mais diversos jornais, sou fanática pelo Estadão e adoro ler o The New York Times online. Estou fazendo faculdade de jornalismo mesmo sem precisar mais de diploma porque eu acredito que o jornalista precisa SIM cursar a faculdade. Meu maior sonho profissional é trabalhar na revista BRAVO! da Editora Abril.

A Imprensa brasileira hoje em dia está lutando para sobreviver. O que está acontecendo com o Sarney, como foi citado no post aconteceu no golpe militar e no impeachment do Collor. Querendo ou não, a imprensa é o quarto poder. E me frusta saber que a imprensa de Cabreúva é controlada pela prefeitura e apoia intrigas políticas. Eu tenho consciência de que em todo lugar é assim. Só que nessa cidade, isso acontece descaradamente. É uma pena.